Habrá impacto positivo para Brasil

La reapertura económica argentina llevará las exportaciones a 12.400 millones de dólares y aumentará la producción industrial brasileña.


Reabertura econômica argentina pode ter impacto positivo na produção industrial brasileira ao longo dos próximos anos.as exportações brasileiras para a Argentina tem potencial de aumentar em até US$ 12,4 bilhões

A vitória do candidato de oposição, Mauricio Macri, nas eleições presidenciais argentinas abriu espaço para um processo de ajuste mais rápido da economia argentina, principalmente nas esferas da política monetária e da agenda de reabertura comercial, que visa atrair investimentos estrangeiros e normalizar o fluxo comercial com outros países. O Brasil, naturalmente, deve se beneficiar desse processo no médio prazo, uma vez que, na nossa visão, o próximo ano ainda será marcado pela recessão da economia argentina. Estimamos que as exportações brasileiras para a Argentina tem potencial de aumentar em até US$ 12,4 bilhões. Mas, é importante levar em conta que a liberalização do câmbio argentino deve desvalorizar a moeda e desincentivar as importações. Assim estimamos que a normalização dos fluxos comerciais com o país vizinho terá modesto impacto sobre a indústria de transformação brasileira, 1,3%, ainda que alguns segmentos industriais possam ser beneficiados mais significativamente.

Propomos um exercício de aumento potencial das exportações brasileiras, com base no histórico exportado pelo País, mas não levamos em conta que no curto prazo há uma recessão no país vizinho, que deprime importações, e aumento da concorrência asiática em alguns setores. Para contornar esses problemas estimamos o aumento de exportações para alguns setores específicos, excluindo aqueles que sofrem maior concorrência com produtores asiáticos, e focamos no potencial dos próximos anos, ou seja, após a recessão argentina. Em 2010, as importações argentinas provenientes do Brasil chegaram a representar 31,1% do total exportado por aquele país, nos primeiros nove meses deste ano o Brasil responde por 21,8% das importações do país platino. Os países asiáticos passaram de 22,9% para 29,5% das importações na mesma base de comparação. A participação brasileira nas importações argentinas não necessariamente irá voltar a aumentar, dado o movimento global de aumento da participação asiática no comércio de industrializados no mundo.

A normalização do comércio exterior argentino pode aumentar as exportações brasileiras em diversos segmentos. A queda das barreiras alfandegárias tende a ser mais rápida do que a recuperação da economia argentina, que deve passar por um período recessivo ano que vem. De forma que é difícil precisar quando as exportações brasileiras aumentariam, mas fizemos um exercício para estimar o potencial de aumento das exportações nos próximos anos. Para esse exercício consideramos o potencial de melhora com base no diferencial entre o pico das exportações de cada setor (acumuladas em 12 meses) verificado nos últimos anos e os resultados correntes. Por exemplo, as exportações de automóveis atingiram seu pico histórico em novembro de 2013, quando no acumulado de doze meses somaram US$ 9,76 bilhões. Já em novembro deste ano (último dado disponível), as exportações de automóveis chegaram a US$ 5,77 bilhões. Ou seja, há potencial das exportações recuperarem em quase US$ 4 bilhões. Esse exercício de recuperação, com base no auge das exportações brasileiras para a Argentina foi feito para todos os setores da CNAE1 , em dois dígitos. Considerando que as exportações brasileiras neste ano devem chegar a US$ 191,7 bilhões, a liberalização argentina tem potencial de aumentar em até 6,4% as exportações brasileiras ao longo dos próximos anos.

As exportações brasileiras subiriam principalmente nos segmentos de veículos automotores, equipamentos de informática e eletrônicos, minerais não metálicos (vidros, cerâmicas), produtos químicos (aditivos de uso industrial e outros produtos químicos), derivados de petróleo e biocombustíveis, metalurgia (laminados de aço e tubos de aço com costura), outros equipamentos de transporte (aeronaves principalmente), máquinas e equipamentos (compressores, máquinas agrícolas e equipamentos para construção civil). Cabe lembrar que: (i) o Brasil já vinha perdendo espaço para produtores asiáticos em produtos de informática e eletrônicos antes das restrições alfandegárias argentinas terem se tornado mais acentuadas; (ii) a dinâmica de exportação de petróleo, derivados e biocombustíveis depende da dinâmica interna de ambos os países em termos de produção local; (iii) a exportação de outros equipamentos de transporte se concentrou em demandas pontuais de aeronaves, tendo pouca relevância as restrições alfandegárias; (iv) as exportações de máquinas agrícolas podem tomar grande impulso com a liberalização das exportações de produtos agrícolas argentinas, o que aumenta as margens dos agricultores e a demanda por equipamentos.

Internamente no Brasil, o aumento das exportações afeta de maneira diferente os diversos setores industriais. A indústria automobilística é a principal beneficiada no médio prazo com a liberalização das exportações brasileiras, sendo que potencialmente a recuperação das exportações pode aumentar a produção brasileira de veículos automotores em até 10,2% nos próximos anos. Equipamentos de informática e eletrônicos são o segundo segmento com maior potencial, com a ressalva de que houve aumento da concorrência com produtores asiáticos nos últimos anos. Devemos ainda considerar que o potencial das exportações de outros equipamentos de transporte é baixo por se referir a demandas pontuais de aeronaves. Produtos químicos têm aumento estimado em até 3,4%. A demanda de produtos têxteis pode levar a um crescimento da produção brasileira em até 2,4% (principalmente na produção de tecidos especiais, tecelagem de fios de algodão e fibras sintéticas).

Se efetivamente recuperassem os níveis de exportação de todos os segmentos brasileiros, haveria aumento de 1,7% da produção da indústria de transformação brasileira. Se desconsiderarmos os setores que mais sofreram com a concorrência com os países asiáticos (têxteis, vestuário, informática e eletrônicos, borracha e plástico) e os setores com importações que foram pouco afetados por barreiras alfandegárias (derivados de petróleo e outros equipamentos de transporte), ainda assim a produção industrial brasileira tem o potencial de subir em 1,3%.

A reabertura econômica da Argentina, com o novo governo do presidente Macri, tem potencial de aumentar as exportações brasileiras em cerca de uma dezena de bilhões de dólares com a ressalva de que o país vizinho está passando por um processo de ajuste econômico com recessão econômica e desvalorização cambial (ambos com impacto negativo sobre as importações argentinas e mais relevantes no curto prazo). Além disso, setores específicos não necessariamente voltarão, em um horizonte de tempo relevante a exportarem os mesmo valores tendo em vista as mudanças de demanda, o surgimento de novos concorrentes e o ajustamento do câmbio real de equilíbrio da Argentina. De qualquer forma, acreditamos na recuperação das exportações brasileiras para a Argentina tem o potencial, no médio prazo, de ajudar a produção doméstica brasileira em diversos segmentos industriais, podendo aumentar a produção doméstica da indústria de transformação em até 1,3%.

 

Texto completo: http://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/destaque_setorial_29_12_15v1.pdf

 

 

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